Paulo Raimundo
Membro da Comissão Política
do Comité Central do PCP

<font color=0093dd>A luta de massas – valor, evolução e perspectivas</font>

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Daqui sau­damos todos aqueles que dão corpo ao ex­tra­or­di­nário mo­vi­mento de luta de­sen­vol­vido nos úl­timos anos.

Sau­damos os ho­mens, mu­lheres e jo­vens que não se re­signam pe­rante as in­jus­tiças e a ex­plo­ração, e travam uma luta imensa nas em­presas, lo­ca­li­dades e nas ruas.

Sau­damos par­ti­cu­lar­mente a classe ope­rária e os tra­ba­lha­dores que lutam lá, onde é mais di­fícil, lá, onde é ne­ces­sário toda a co­ragem e uni­dade, nas em­presas e lo­cais de tra­balho. Lutas que, muitas vezes afas­tadas da co­mu­ni­cação so­cial, são de­ci­sivas.

De­ci­sivas, porque são a ex­pressão maior da luta de classes, porque con­di­ci­onam e em muitos casos travam as pre­ten­sões do pa­tro­nato. De­ci­sivas, porque elevam a cons­ci­ência de classe dos tra­ba­lha­dores e criam as con­di­ções para as grandes ac­ções de con­ver­gência, como as que re­a­li­zamos nestes úl­timos quatro anos.

Grandes ac­ções de con­ver­gência que foram buscar forças às pe­quenas lutas, e que, si­mul­ta­ne­a­mente deram ânimo e con­fi­ança para in­ten­si­ficar e pros­se­guir a luta nas em­presas e lo­cais de tra­balho.

A de­ter­mi­nada e per­sis­tente luta da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores cons­ti­tuiu o mais con­se­quente e per­ma­nente factor de re­sis­tência à po­lí­tica de di­reita. Foi o motor da luta de massas que animou e deu con­fi­ança a sec­tores e ca­madas também elas alvo da ofen­siva em curso. Sec­tores e ca­madas di­versas, muitas que pela pri­meira vez vi­eram à rua, e que, in­de­pen­den­te­mente da sua evo­lução, já trou­xeram novas ener­gias à luta. Gente nova que de aqui sau­damos, que se junta ao vi­go­roso mo­vi­mento de luta em curso. Nova gente a quem ape­lamos a que se man­tenha e alargue a sua par­ti­ci­pação na luta.

Uma luta para am­pliar e in­ten­si­ficar nas em­presas e lo­cais de tra­balho. Uma luta para alagar de forma mais con­se­quente a todos os vi­sados pelo ca­minho de des­truição que está em curso. Esta po­lí­tica que des­trói o País e que leva o de­sem­prego, a mi­séria e a fome a mi­lhares de pes­soas. Mi­lhares de pes­soas com as vidas ar­rui­nadas e des­tro­çadas muitas delas em­pur­radas para o de­ses­pero.

A todas elas di­zemos: Não de­sistam, não percam a es­pe­rança, re­forcem a nossa que é a vossa luta, sejam também cons­tru­tores da al­ter­na­tiva.

Não con­fun­dimos sen­ti­mentos de de­ses­pero, an­gústia e ac­ções que daí possam de­correr, com pro­vo­ca­ções e ac­ções or­ques­tradas. Damos e da­remos firme com­bate a todas e quais­quer ini­ci­a­tivas cujo o re­sul­tado se tra­duza em pre­juízo para a luta dos tra­ba­lha­dores.

Não con­fun­dimos ati­tudes pro­vo­ca­tó­rias com co­ragem ne­ces­sária para di­na­mizar a luta. Co­ragem fí­sica é aquela que co­lo­camos todos os dias na luta.

Vi­o­lento! Vi­o­lento é ter de en­frentar hoje o pa­tro­nato nas em­presas e lo­cais de tra­balho e amanha voltar ao con­fronto.

Não em­bar­camos em vo­lun­ta­rismos nem em actos iso­lados, mas daqui re­a­fir­mamos que em mo­mento algum ab­di­ca­remos do di­reito à re­sis­tência, e que le­va­remos esse di­reito tão longe quanto for ne­ces­sário.

Em­pe­nha­remos todas as nossas forças na in­ten­si­fi­cação e con­ver­gência da luta de massas, com todos os de­sen­vol­vi­mentos e ex­pres­sões que ela possa as­sumir.

Não es­tamos nem fi­camos à es­pera de um acto qual­quer para cons­truir a al­ter­na­tiva.

Es­tamos a cons­truí-la em cada luta que tra­vamos.

Es­tamos a ci­mentá-la na base, cri­ando uni­dade na acção.

Es­tamos a afirmar a sua pos­si­bi­li­dade, em cada vi­tória al­can­çada.

Cada pro­cesso de­sen­vol­vido é, em si mesmo, um passo em frente na con­cre­ti­zação da al­ter­na­tiva po­lí­tica tão ur­gente e ne­ces­sária.

Quando se lutou pela de­fesa dos postos de tra­balho, na Bor­dalo Pi­nheiro, na SPDH/​Ground­force, na TNC, na Ce­râ­mica Va­la­dares, lutou-se pelo apa­relho pro­du­tivo na­ci­onal.

Na luta contra a pre­ca­ri­e­dade, na Lis­nave, na Tempo Team, na Bosch, no Jumbo, na Por­tucel, na Isipe, os di­reitos, a va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores é também o que está em causa.

A luta de­sen­vol­vida pelos tra­ba­lha­dores do Metro de Lisboa e Porto, na Trans­tejo, na So­flusa, na Carris, na STCP, na CP, é também a luta pelo sector pú­blico de trans­portes.

A luta dos en­fer­meiros, dos mé­dicos, dos pro­fis­si­o­nais da saúde, é uma grande afir­mação da luta pelo Ser­viço Na­ci­onal de Saúde.

Quando os pro­fes­sores de­fendem na rua a car­reira do­cente, estão si­mul­ta­ne­a­mente a de­fender o di­reito à edu­cação pú­blica, gra­tuita e de qua­li­dade.

A luta dos tra­ba­lha­dores dos CTT, da ANA, da TAP, da RTP, dos Es­ta­leiros Na­vais de Viana, cons­titui um con­tri­buto fun­da­mental na luta contra as pri­va­ti­za­ções.

A luta de­sen­vol­vida pelos tra­ba­lha­dores da ad­mi­nis­tração pú­blica cen­tral e local, com as suas ac­ções pró­prias, in­sere-se na luta mais geral pela de­fesa dos ser­viços pú­blicos.

Vale a pena lutar

As vi­tó­rias já al­can­çadas, no pro­cesso de con­tes­tação à ten­ta­tiva de apro­vei­ta­mento do pa­tro­nato das al­te­ra­ções ao Có­digo de Tra­balho, de­mons­tram as reais pos­si­bi­li­dades dessa luta.

Quando a 11 de Fe­ve­reiro e a 29 de Se­tembro o Ter­reiro do Paço se trans­formou no Ter­reiro do Povo, ou quando por todo o País se mar­chou contra o de­sem­prego, re­ve­laram-se novas dis­po­ni­bi­li­dades para in­ten­si­ficar a luta. Dis­po­ni­bi­li­dades já de­mons­tradas nas greves ge­rais de­sen­vol­vidas nos úl­timos anos, mas que foram par­ti­cu­lar­mente evi­dentes nessa po­de­rosa jor­nada de luta que foi a greve geral de 14 de No­vembro.

Greve geral que abriu uma nova fase da luta, e onde a co­ragem e de­ter­mi­nação de todos quantos nela par­ti­ci­param, muitos pela pri­meira vez, re­a­firmou a ur­gência de der­rotar a po­lí­tica em curso, der­rotar o seu ins­tru­mento cen­tral que é o pacto de agressão, der­rotar o go­verno que a exe­cuta. Uma de­mons­tração dessa ur­gência, e acima de tudo uma de­mons­tração de que existem as forças para con­cre­tizar esse ob­jec­tivo.

Temos uma con­fi­ança ina­ba­lável nessas forças, e é com essas forças que vamos avançar neste ca­minho exi­gente.

Toda a força à acção rei­vin­di­ca­tiva nas em­presas e lo­cais de tra­balho, pelo au­mento dos sa­lá­rios e de­fesa da con­tra­tação co­lec­tiva, contra as ten­ta­tivas de apro­vei­ta­mento do pa­tro­nato das al­te­ra­ções ao Có­digo do Tra­balho, contra o de­sem­prego e a pre­ca­ri­e­dade.

Todo o en­genho em trazer para a luta mais gente e nova gente.

Todo o es­forço para a mo­bi­li­zação para dia 8, no Porto e para 15 em Lisboa.

Todo o em­penho no re­forço das or­ga­ni­za­ções e mo­vi­mentos uni­tá­rios de massas.

Toda a di­nâ­mica à uni­dade da classe ope­rária e dos tra­ba­lha­dores e ou­tros sec­tores e ca­madas anti-mo­no­po­listas.

Toda a força ao alar­ga­mento da frente so­cial, num im­pe­tuoso mo­vi­mento de luta, capaz de impor a rup­tura com esta po­lí­tica, e de abrir ca­minho à po­lí­tica al­ter­na­tiva.

Não fi­camos à es­pera nem sur­famos na onda da luta. Somos di­na­mi­za­dores do pro­cesso, somos seus pro­ta­go­nistas, somos parte in­te­grante desse mo­vi­mento de luta, dessa onda, dessa força imensa, dessa luta imensa.

Uma luta que tra­vamos com os tra­ba­lha­dores e o povo que temos e que somos. Gente que, tal como em ou­tros mo­mentos da his­tória, mais cedo ou mais tarde as­su­mirá nas suas pró­prias mãos os seus des­tinos e o rumo do país.

Vamos à luta, que a luta é o ca­minho!

Pela rup­tura, pelos va­lores de Abril no mundo do tra­balho e no fu­turo de Por­tugal!

In­ter­venção pro­fe­rida no XIX Con­gresso do PCP, re­a­li­zado em Al­mada de 30 de No­vembro a 2 de De­zembro



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